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24 março 2011

Morre mais um pouco da gloriosa Hollywood


Pense na empatia de Julia Roberts, na presença midiática de Angelina Jolie, na beleza de Nicole Kidman e nos dois Oscars recebidos por Hilary Swank. Elizabeth Taylor reuniu tudo isso em uma única carreira: foi a moça com a qual todas as moças de sua época se identificavam, uma das personagens preferidas da imprensa de celebridades, um ícone de perfeição estética feminina e duas vezes vencedora do prêmio de melhor atriz da Academia de Hollywod, por "Disque Butterfield 8" (1960) e "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1966).

Talvez pareça exagerado, mas as novas gerações precisam fazer um esforço para entender o que significava ser estrela de cinema antes da popularização da TV, do vídeo doméstico e da internet. Como a trama de "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985) ilustra muito bem, atores e atrizes de Hollywood pertenciam naquela época a um Olimpo inalcançável pelo espectador comum.

Os fãs os idolatravam como se fosse divindades, e só havia duas maneiras de vê-los: indo ao cinema quando seus novos filmes entravam em cartaz, para admirá-los no esplendor de telas e salas gigantes que já desapareceram, ou comprando revistas que exibiam reportagens fotográficas exclusivas. Não apareciam a toda hora, em todo lugar. Quanto mais difícil o acesso, maior também o culto.

Na primeira metade de sua carreira, do início dos anos 40 até o final dos anos 50, Liz Taylor interpretou o papel de estrela de Hollywood à perfeição. Começou a trabalhar menina, antes de completar 10 anos. Na adolescência, já era um rosto familiar para o grande público. Adulta, tornou-se um mito, um dos maiores na história do cinema, alimentado também pelas atribulações da vida pessoal.

A deusa parecia de carne e osso, a exemplo de seus fãs, e os dramas dos casamentos infelizes se transformaram em histórias tão interessantes quanto as tramas de seus filmes. Os dois Oscars -- e principalmente o segundo, por "Virginia Woolf" -- sugeriram que, na segunda metade de sua carreira, o glamour de estrela poderia dar lugar a uma trajetória sólida como atriz de recursos dramáticos, como havia ocorrido com Katharine Hepburn.

Não foi, contudo, o que se viu. Sem o amparo oferecido durante o auge do "sistema dos estúdios", em que atores e atrizes eram cuidados pelas produtoras como sua mercadoria mais preciosa, Liz Taylor precisou traçar por conta própria seus rumos profissionais, e não primou pela escolha de projetos e de personagens capazes de lhe transferir prestígio.

Ainda assim, jamais foi esquecida pelos fãs e pela mídia. Um pouco porque sua vida pessoal continuou a se desenvolver como uma telenovela, com novos e às vezes surpreendentes capítulos. Outro tanto porque se envolveu em campanhas e ações beneméritas, emprestando sua imagem (e doando parte de seu patrimônio) a causas nobres, como as pesquisas sobre a Aids.

Ela jamais foi esquecida, também, porque simbolizava uma era muito diferente da atual, em que basta aparecer em um "reality show" da TV para se tornar uma celebridade instantânea. Nos gloriosos tempos de Hollywood, era preciso muito mais para obter esse privilégio. Com Liz Taylor, perdemos mais um pouco do que ainda resta daquele tempo de glamour, fascínio e inocência.

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